sexta-feira, janeiro 04, 2013

2013 - ANO NOVO VIDA VELHA



Sou um cidadão comum, num país comum, igual a tantos outros. Hoje somos todos vítimas do sistema! A crise económica já não é só notícia de uma coisa num país distante. O desequilíbrio ambiental sente-se no ar que respiramos. Mas será que 2013 traz uma nova esperança? De quê?
São pelo menos 2012 anos em que o sistema é sempre o mesmo, uma minoria governa sobre uma maioria, os poderosos exploram os outros com base no medo imposto. Já houve revoluções em que o povo, a maioria, conseguiu impor-se às minorias. Mas o que acontece depois? Instala-se um sistema que pelo medo se impõe e explora os outros. Os poderosos voltam a ser os mesmos, ainda que haja novas vagas de pretendentes a poderosos.
2012 anos em que já passámos pelas invasões em que povos eram chacinados e escravizados, passámos pelo obscurantismo religioso, passámos pela inquisição mas de que ainda hoje há exemplos em várias zonas do mundo, passámos pela escravização de povos afastando-os das suas terras e gentes, passámos pela extinção de povos invadidos, mas nem isso acabou por completo, o genocídio continua nalguns países. Passámos pelo genocídio em massa mais frio e calculista, em países democráticos e republicanos, o Holocausto . Mas será que isso é tudo passado? Será que estamos tão longe disto tudo? De tudo o que no fundo representa a nossa cultura humana baseada na exploração?
Hoje temos a internet, que muito pode fazer pela realidade de uma aldeia global. Mas temos pessoas que acreditam que as guerras lá longe, com chacinas iguais às de séculos atrás, nada têm a ver connosco. Todos conhecemos o ditado: dividir para reinar. Mas muito poucos são os que entendem como este dividir  serve bem os regimes de exploração. Estou em Portugal e já todos sabemos: em termos de crise dos bancos Portugal não é a Grécia. Em Espanha todos dizem: em termos de crise dos bancos Espanha não é Portugal. E por aí fora… Mas nenhum político diz que em termos de exploração somos todos iguais, e que com crise, ou sem ela, todos caminhamos para um sistema em que temos que servir os mais poderosos. Os mesmos de sempre.
Os bancos têm sempre tudo, um poder económico que controla tudo desde há muitos anos. Os bancos têm dinheiro, os bancos têm empresas, os bancos têm terras, os bancos têm casas, os bancos até têm os políticos, os mesmos que o povo escolhe, ou nem por isso. Quando há bancos que estão prestes a falir, porque geriram mal o seu negócio, logo os políticos arranjam maneira de explorar as pessoas para dar dinheiro aos bancos. Os bancos não são só estruturas, eles têm por trás pessoas que ganham fortunas com os negócios, e que são protegidos pelo sistema. Essas pessoas por trás dos bancos impõem o medo.
Em Portugal houve uma revolução, o povo saiu à rua. Mas as mais variadas conquistas sociais estão hoje, 40 anos depois, completamente devassadas. Desde há alguns anos que o bem público deixou de ser importante. Importante é o tecido empresarial, importante é o sistema financeiro, cada vez mais privado, a deixar o poder de lucrar sem controlo algum. Em nome do desenvolvimento estraga-se o património ambiental, que é de todos. Estragam-se bens comuns como a atmosfera e a água, dos rios aos oceanos, numa escala global em que os mais fracos já sofrem os efeitos. Mas logo vem essa ideia de que é longe, são “outros”, e a culpa não é nossa.
O povo, a maioria, os 99% da população que vive em democracia, devem mostrar ao mundo que este sistema pode funcionar. Mas para isso têm que fazer alguma coisa. No Brasil a democracia funciona, mas no Brasil assiste-se ao genocídio diário do povo. “São índios”, dizem, mas é o povo a ser chacinado. Quem votou para que assim fosse, quem votou a favor do genocídio? No máximo 1% defende um genocídio, porque isso lhes dá poder. Todos os outros são contra. Mas as coisas acabam por acontecer.
Em Portugal era bem bom que as pessoas acordassem para a participação cívica. Mas não há essa tradição, a participação cívica resume-se praticamente às coisas folclóricas e à caridadezinha. A minha esperança para 2013 está em Espanha, onde existe uma outra consciência política, ainda que em termos eleitorais as coisas acabem por ser sempre mais do mesmo, o sistema está preparado para isso. Mas temos a Catalunha, onde até apareceu um partido do voto em branco, para dar expressão a todas as pessoas que não concordam com nenhum dos partidos e querem ver isso nos parlamentos, com cadeiras vazias. Mas também para que as verbas que os partidos recebem em cada eleição sejam diminuídas. Alguma coisa se poderá fazer para mudar o sistema, alguma coisa melhor do que ficar em casa a dizer-se que se é contra o sistema, pois é exatamente disso que o sistema precisa para se eternizar!


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