sábado, abril 20, 2024

ENORMES LUCROS DO GRUPO SONAE

Só para registar aqui a reclamação que acabei de enviar para os gestores do Cartão Universo (Cartão Continente).

"Prezados Senhores

Venho, por este meio, apresentar em conjunto uma Reclamação, um Pedido de devolução de verba indevidamente facturada e ainda uma Solicitação de reparação de cobranças abusivas.
Toda a situação é iniciada quando li um email enviado pelo Cartão Universo (noreply@universo.pt), cujo assunto desde logo chamou a minha atenção: "Está actualmente a beneficiar de condições especiais por ter o Plano de Preçário Light". Chamou a atenção porque eu sei que não beneficio de nenhuma condição especial, enquanto aderente e utilizador do Cartão Universo (cartão Continente). O email, datado de 19 de Abril, às 22 horas, não vem assinado e comunica, em apenas dois curtos parágrafos, que estou a beneficiar de um preçário mensal, que tem um custo de 4,90 euro e que, se quiser cancelar esse "benefício", tenho que ter o trabalho de entrar na minha área de cliente on line e cancelar. E foi o que fiz, mas tenho que dar sequência a esse processo, uma vez que me parece estarem reunidas as condições para vos dirigir este conjunto de três textos que exigem a vossa atenção e resposta urgente. E que passo a apresentar, devidamente numerados e identificados com maiúsculas.
1 - RECLAMAÇÃO
A minha reclamação deve-se ao facto de terem incluído as contas dos vossos clientes que nunca aderiram a nenhum preçário, e que portanto utilizam o Cartão Universo sem terem qualquer despesa associada, num preçário que consideram unilateralmente como Leve ("light", em inglês), e que faz com que os clientes do Continente passem a pagar uma mensalidade fixa. Não sei se os gestores do Cartão Universo pensam que os clientes são todos parvos, mas eu sei o que penso sobre este tipo de gestores, escusando-me de o referir aqui nesta reclamação. Mas esses mesmos senhores sabem certamente que muitos dos clientes não lêem todos os emails que recebem a cada dia, e muitos deles, mesmo que leiam, não têm a literacia em português suficiente para entender o que lá vem escrito. O facto de nunca terem contactado os clientes para perguntarem se querem aderir de livre vontade a um preçário mensal, nem comunicarem previamente, com a antecedência obrigatória, a alteração das condições contratuais é muito grave. Tal como eu, que nunca subscrevi tal plano, nem aderi de qualquer modo, imagino que fizeram o mesmo aos milhares de clientes nas mesmas condições. Virem, a posteriori, comunicar que se tem um Plano especial e vantajoso de um tarifário mensal de quase 5 euros, é revoltante e ignóbil. Devem saber também os senhores gestores, que mesmo os clientes que abrem no seu email os extractos mensais detalhados, não devem ler com toda a atenção todo o documento, principalmente a parte final. E é precisamente nessa parte final que aparece a menção a esta despesa suplementar, o que me demonstra bem e à saciedade todo o inqualificável processo de sacar uma boa renda para lucro aumentado da estrutura comercial do Cartão Universo. Se multiplicarmos este valor leve pelos 12 meses do ano, e por um número aproximado de vítimas deste esquema maquiavélico de 500 mil pessoas, facilmente os lucros têm uma subida de cerca de 25 milhões de euros. Para os gestores, comparar 25 milhões com o lucro de 2023 do Grupo Sonae de 357 milhões (resultados líquidos), é realmente um resultado leve ("light").
2 - PEDIDO DE DEVOLUÇÃO DE VERBA INDEVIDAMENTE FACTURADA
Agradeço que procedam à devolução imediata do valor indevidamente facturado no meu extracto mensal por adesão a este Plano de Tarifário ao qual nunca aderi de livre vontade, nem me foi comunicado antecipadamente por nenhum meio que me permitisse aceitar esta alteração unilateral de condições contratuais.
3 - SOLICITAÇÃO DE REPARAÇÃO DE COBRANÇAS ABUSIVAS
Agradeço que seja analisada ao mais alto nível da gestão do Grupo SONAE e das entidades bancárias associadas ao Cartão universo esta situação, e que a mesma seja reparada, revertendo todos os casos em que os clientes estão a ser lesados por estas cobranças suplementares abusivas. Solicito que considerem dedicar parte dos lucros que têm a projectos de conservação da natureza, como por exemplo os Centros de Recuperação de Animais Selvagens ou a Rede de Micro Reservas Naturais da Quercus. Seria uma forma simpática de reconhecer o trabalho desenvolvido por inúmeras pessoas que dedicam parte das suas vidas de forma voluntária a um bem comum. E de publicamente poderem pedir desculpa e promover uma melhor imagem das instituições envolvidas nestas cobranças abusivas. Apenas um milhão de euros , isso sim, uma verba levezinha, seria realmente uma ajuda transformadora para qualquer projecto de intervenção positiva na defesa do ambiente.
É quase irónico esta situação acontecer exactamente no mesmo período em que escrevi no meu blogue pessoal um grande elogio à forma como funcionam os descontos em Cartão Continente. Claro está, que me reservo o direito a copiar esta minha correspondência no mesmo blogue, ficando assim de acesso livre a toda a gente, com a garantia que depois publicarei a resposta, ou a falta dela, a estas minhas três solicitações.
Com os meus melhores cumprimentos"

Se tiver resposta, disso darei conta aqui no Malfadado. Quase a fazer os 50 anos do 25 de Abril, é incrível como certos senhores voltaram a estar na mó de cima, fazem o que lhes apetece e gozam dos benefícios da classe política, que ainda por cima é eleita pelos da mó de baixo, de forma alegre e estupidamente favorecedora desta classe de políticos que defendem a direita das negociatas e do nacionalismo anormal.

sábado, abril 13, 2024

OPERAÇÃO LARANJOÃO - CRÓNICA LITERÁRIA 2

 João pertence à espécie Homo sapiens. Homo sapiens sapiens, a única subespécie que sobreviveu. O humano actual é conhecido por parte da evolução ter tido comportamento de caçador-recolector. A sapiência a dobrar deste espécime particular, aplicou-a na caça às moscas caseiras, um conjunto mal estudado que engloba algumas espécies diferentes de insectos incomodativos e voadores. Já não há mamutes para caçar, e ele sabe que não é carnívoro, por isso caça bichinhos aperreantes. Mas também se dedica à recolha de alimentos, anda sempre à caça de fruta boa, bem madurinha, seleccionada pelos seus olhos gulosos. Gula a dobrar.

Há coincidências que nos deixam a pensar nos desígnios do destino, no acaso que constrói e destrói casos simples ou complexos. Hoje é a onomástica que traz tragédia e gula a juntarem-se num momento real.

António é do tempo em que as crianças andavam no campo a cobiçar as árvores de fruto, à espreita da época em que a fruta começava a ficar com cores de ser roubada. Era preciso ser astucioso para escapar aos tiros com sal-gema, disparados pela caçadeira defensora dos legítimos direitos do senhor proprietário. Na época, a árvore dava bom rendimento ao seu fruticultor, mas trepada e aliviada de algum peso ajudava a matar a fome à extensa trupe da miudagem. Um dos filhos de António também se chamava João, mas já foi criado num meio sub-urbano.

Nos dias de hoje os frutos dos pequenos agricultores, principalmente dos que o são sendo apenas proprietários de pequenas quintas, quintais ou terrenos encalhados de herança, não serve para a cobiça das crianças. As árvores dão generosas camadas cujo futuro mais certo é caírem ao chão. O guloso João apanha a fruta e gosta de contrariar esse futuro, tornando ameixas e laranjas em iguarias certas para certos apreciadores. Tangerinas, maçãs e nêsperas sem pesticidas, sem regas intensivas. A gravidade nestas pérolas arbóreas fica a meio caminho, quando ele as colhe e vão caindo, uma a uma, cacho a cacho, no saco dependurado.

António chamou João ao seu primeiro fruto. Uma tia logo atalhou, como uma sentença de prisão perpétua: - Os Joões são todos malucos!

Não lhe foi fácil lidar com o primeiro filho. É sempre uma aprendizagem que se faz, ao vivo e saltando barreiras. Mas quis o destino que, na sua juventude, a maluqueira lhe levasse o seu rebento para as drogas. Leves, pesadas, muitas desintoxicações, e recaídas.

Outras voltas do destino fizeram com que um destes dias primaveris, o frutósofo tivesse que se deslocar à grande cidade, para levar um equipamento de ginástica ligeirinha para casa dos cansados pais. Que são sua família. Levou o aparelho e colocou na bagagem laranjas, limões e cidreira, em folhas secas para tisanas digestivas. Uma bebida com profundas raízes familiares. Mas em ano de muitas laranjas, que são quase todos os anos, levou muitas mais para entregar em mão a uma outra pessoa.

Maria João abusa das laranjas. À dentada gulosa, em sumo a rodos, é devoradora de laranjas. É quase um vício. Uma propensão irresistível, no mínimo. Morando ali para os mesmos lados, logo o João lhe comunicou que levava uma sacada de laranjas. Se qiueria a oferta? - Claro, pá!

Mas como entregar? Maria João sempre a correr atrasada, sem tempo para estes imprevistos. Quem lhe poderia levar o divinal néctar embrulhado de cor-de-laranja? O seu lindo e generoso filho? - Não, o meu João não está cá.

E se combinassem a entrega ao seu colega de profissão, o músico João Farinha, com quem se reúne regularmente para ensaios e shows? Contactado esse outro João, nada feito, pouco prático e possivelmente um processo demorado. Ficarão as laranjas pelo caminho?

Recuando ao João do António. Grande maluco, casou, teve filhos. Mas o vício voltou, divorciou-se, só encontrou abrigo na casa dos sofredores de décadas, progenitores que nunca desistiram. Já reformado, o sempre pacato António, num dia normal, viu um futuro muito incerto entrar na sua casa. O seu filho caiu no chão. Redondo. Uma pancada fatal, desferida pelo próprio pai. Gesto desesperado, certamente, desfecho inesperado.

Voltando ao João das doces laranjas maduras. E à João, a doce diva. Foi ela própria, no seu carro familiar, buscar a saca que continha as maiores, mais sumarentas, mais melosas e aromáticas laranjas encontradas nesta safra. Enormes, gigantescas, uns laranjões dignos de registo. Largou tudo o que estava a fazer, incertamente atrasou outras coisas planeadas, mas aproveitou para passear as suas bonitas cadelas. E pôs a conversa em dia, que para estes Joões as conversas, por mais malucas que sejam, são como as cerejas. Mas, ainda assim, ficam sempre coisas para contar.

Para coroar estas andanças do destino, concluída mais uma entrega bem sucedida de laranjas, resta situar o local, ali numa rua ao acaso. E por acaso em frente ao Palácio Nacional onde nasceu el-Rei D. João VI, ali mesmo onde as árvores dos frondosos jardins viram depois nascer quase todos os seus filhos.

Fosse esta uma operação militar e o relatório vitorioso começaria assim: OPERAÇÃO LARANJOÃO.

terça-feira, abril 02, 2024

segunda-feira, abril 01, 2024

LARANJAS NO DIA DAS MENTIRAS

Hoje não preguei nenhuma mentira. Como tal fica aqui um registo fotográfico interessante, obtido num painel de azulejos do Palácio Nacional de Queluz. Retrata o momento em que eu ando em cima das laranjeiras, colho as laranjas e a Zé anda cá em baixo a apanhá-las e a colocá-las num cesto.


Por acaso o painel está descrito como representando a apanha das mangas, daí as vestes reduzidas.


Segue-se a foto da clementineira da Ereira, que este ano deu uma produção fantástica, em quantidade e em qualidade. Nem conseguimos apanhar todas, mesmo agora ainda tem muitas. Mas já não têm qualidade, vão caindo e vão sendo apanhadas para compostagem. Para o ano vai dar menos, e normalmente ficam grandes e não são tão comestíveis.


quarta-feira, março 27, 2024

ACTUALIZAR O MALFADADO - UM BOM DIA PARA ESCREVER

 A última vez que aqui deixei alguma coisa foi uma análise política feita no dia 11 de Março. Já sabíamos o resultado das eleições no território nacional, mas faltava contar os votos dos portugueses que trabalham lá fora, divididos em dois círculos eleitorais: Europa e fora da Europa. Na Europa aconteceu uma nova surpresa, como já tinha acontecido no Algarve: o partido mais votado foi o Chega. Fora da Europa não houve surpresas. Nesta actualização do Malfadado vou abrir uma errata, a propósito do texto em que fazia as contas destas eleições. Porque afirmei uma coisa que afinal não é assim, em relação ao financiamento dos partidos.

Vou também partilhar alguns vídeos e coisas que pesquei noutros blogues, relacionados com a música.

E vou falar das minhas evoluções pessoais, para registo futuro, iridologia, psicologia e dieta, quem sabe possa inspirar algum leitor neste vasto campo de descoberta que é a saúde. Referirei também a minha recente formação na área da escrita, um pequeno mas intenso workshop.

Entre dia 11 e dia 27, hoje mesmo, facilmente conseguirei encaixar estes poucos temas. Mãos à obra!

terça-feira, março 26, 2024

CRÓNICA DE MIA COUTO - NATURAL DA ÁGUA

Tenho em livro, o Cronicando. Mas lá a descobri aqui online, uma obra-prima das crónicas a nível mundial. Chama-se Natural da Água, e lá pelo meio pode ler-se: "Mas a água só despida está completa. Assim, da terra ela se distingue. A terra exige coberta, requer construção. Enquanto a água em sua própria pele se aconchega. Em tal nudez, nunca nenhum sulco se abriu, nenhuma ruga se desenhou. Os homens magoam o solo, cobrem de golpes o chão. Mas até agora nenhum foi capaz de ferir o rio e deixar cicatriz nele escrita." Fica o convite para uma leitura com tempo e tranquilidade, aqui neste link (para o blogue da Biblioteca Municipal de Grândola). 

Nota: o blogue acima referido nasceu no mesmo ano do Malfadado, mas não chegou a fazer 18 anos, morreu em 2021. Mas tem coisas interessantes ligadas à literatura.

Nota 2: o meu amigo Carlos Dias editou em 2023 um livro de fotografias (e posteriormente organizou uma exposição em Coimbra) sobre a água. Fica aqui o link (para o site dele). Nunca se sabe se alguém vai querer ter ou oferecer um livro especial. Para a malta de Coimbra e arredores o Carlos Dias está a organizar a 3ª edição da Oficina de fotografia "Da ideia ao portfólio em papel", começa já daqui a menos de um mês.

segunda-feira, março 25, 2024

CRÓNICAS DE MARCELA DANTÉS

 Tudo aquilo que um dia me ensinou. É o título da crónica que descobri na internet, num site brasileiro que se chama "Rascunho".

Nesta crónica a Marcela Dantés, escritora que é natural da cidade de Belo Horizonte, escreve o seguinte: "Eu não tinha que estar em lugar nenhum naquele dia, mas, até o buraco me acontecer, eu andava rápido, pisava forte, como se estivesse atrasada para qualquer coisa. Com o pé doendo não se pode ter pressa. Com o pé doendo se olha pro chão. Com o pé doendo eu consigo caminhar de mãos dadas com o meu filho sem que ele precise exigir demais das pequenas pernas. O pé doendo dá tempo pra olhar o céu, olhar a montanha, olhar a bandeira do Brasil vibrando com o vento naquele dia que foi o dia mais importante em muito tempo.".

Acho que vale a pena ler toda a crónica, não é muito grande, por isso fica aqui o link (para o Rascunho).

E como descobri outra pequena crónica da mesma autora, e que fala sobre a relação com cães, tenho que deixar aqui o link (idem).

domingo, março 24, 2024

A BOA ENERGIA DE UM CÃO RURAL - CRÓNICA LITERÁRIA 1

 Quando se deixa de poder andar acelerado a fazer e refazer, a tratar de mil e uma coisas, fica-se mais dado à observação. Ganha-se um enigmático poder de ver as coisas que toda a gente poderia ver, poder tanto mais poderoso quanto melhores forem as ligações neuronais de cada cabeça. É assim aquele revolucionário de aldeia rural, que viveu a revolução de Abril na sua juventude contestatária passada num meio urbano. Longe dos pais, perto da observação directa dos movimentos estudantis e operários. Um problema nas articulações das pernas revolucionou a sua vida, e teve que deixar de fazer a sua agricultura de contra-cultura, ela própria já muito respeitadora da observação do funcionamento das ecologias. Começou a olhar mais e a fazer só dentro das medidas do seu possível.


Não passou a ser cientista, porque os cientistas de hoje são os que seguem essa profissão. Mas não podemos fugir a esta realidade: a observação é o princípio de toda a descoberta científica. A constatação e a explicação dos fenómenos, ou a proposta de coisas práticas para resolver problemas, a isto se dedicam agora os cientistas de profissão. Deixando os cientistas da mera observação na classe dos curiosos ou dos amadores. O revolucionário de aldeia, o rural, não escaparia a esta regra.

É quase um lugar comum dizer-se que a ciência está muito avançada, mas há ainda tanta coisa que podemos enumerar a precisar de mais e mais tempo de ver a natureza. Por exemplo, a medicina, a evolução das espécies, a ecologia, a saúde e até a produção de energia de forma verdadeiramente sustentável. Sobre todas as áreas pode um cientista amador evoluir.


No dia em que o nosso revolucionário agricultor ao ralenti começou a observar melhor o comportamento animal, perdendo o seu tempo nos passeios mais longos com os seus cães, foi brindado com algumas cenas inexplicadas. Neste ponto há que referir aqui duas ou três que lhe deixaram o cérebro muito mais baralhado, e curioso. Ele já tinha ouvido falar de coisas da energia e das almas, ligados pelas pessoas à religião, a uma entidade superior, coisas remetidas para o campo do oculto. Os curandeiros, claro, mas também os casos das pessoas que à distância percepcionam situações limite experienciadas por outros que lhe são ligados de alguma forma. Mas nunca lhe passou pela cabeça ver, ele próprio, desocultar-se parte desse mundo.


Ao passear a sua pequena matilha, havia uma cena que se repetia. Um dos seus cães grandes, forma pesada e escura, também ele caminhando com dificuldade articular, era muito peculiar na forma como enfrentava cães mais mal dispostos. Ao passarem numa vivenda com cerca e portões grandes, uma cadela solitária de raça labrador, passava o focinho por entre os varões e ladrava, rosnava agressivamente na presença dos cães. Sempre que ali passeavam, o seu pesado cão ia lá direitinho e a cena repetia-se, focinhos da mesma estatura lado a lado, a cadela ainda dava uma dentada, mas apenas no ar, roçariam apenas suas vibrissas. Mas depois, sem se ver ou ouvir o cão mudar de atitude, a cadela recolhia o focinho para dentro do portão, sentava-se de forma encolhida, cabeça meio pendente, e ali ficava recolhida, até o grupo se afastar. Noutra situação, com o mesmo animal, o pobre bichano decide aproximar-se de um cão ainda maior, mas mais jovem, que vivia preso a uma corrente e ladrava furiosamente ao vê-lo aproximar-se, passos decididos, invadindo o seu quintal. O dono ainda avisou que poderia ser perigoso, não sabia como o seu canino de guarda poderia reagir. Mas da invasão do quintal, a caminhada desequilibrada passou à incursão no território e em segundos ficam lado a lado, há silêncio e um pequeno momento em que o cão aceita a situação inédita. Mas depois salta para cima do invasor, com fúria e morde-lhe na nuca, rosna agressivo e fica em dominância. Mas é só um instante, o cão pacificador estremece por baixo do outro, ouve-se um rosnar grave, quase definitivo, e o outro, que estaria a dominar, sai de cima e volta a ficar calado e calmo. Cheiram-se como é próprio da raça. Assim como se aproximou na sua passada característica, assim se afastou e voltou para junto do dono.


Muitas mais coisas revolucionárias eram dadas a ver ao nosso cientista de campo através dos seus animais e dos longos passeios sem tempo, sempre diferentes situações em que havia essa espécie de energia da comunicação. Do animal que sente a dor de outro animal gravemente ferido, saíndo em disparada e a ganir depois de se aproximar e quase se tocarem, passando pelo animal que se dá bem com todos os outros, mas que apesar do seu diminuto tamanho ataca violentamente e repetidamente apenas um outro, que é medroso, até ao cão de rua que começa a segui-lo, mas que não se deixa tocar.


Como é possível este tipo de comunicação? Como se pode medir esta energia, que certamente não tem nada a ver com a energia eléctrica que circula nos nossos neurónios? Pelo menos não com aquilo que a ciência explica nos nossos dias. Se já é difícil entrar no mundo microscópico das partículas, pois são coisas que os nossos sensores corporais não captam, mais difícil será investir na percepção do mundo dos átomos, constituintes de toda a matéria. E, sempre na direcção do mais difícil, a dimensão do sub-atómico é todo um mundo de teorias que vão sendo provadas ou repelidas por cientistas que a diferentes temas dedicam as suas horas.


Como fixado por Bill Bryson na sua obra de história da ciência “Breve História de Quase Tudo” acerca das intrigantes dimensões do sub-atómico, referindo-se ao Princípio de Exclusão, formulado em 1925, “determinados pares de partículas sub-atómicas, mesmo estando separadas pelas maiores distâncias, podem <saber> instantaneamente o que a outra está a fazer”. Esta teoria foi confirmada por uma experiência científica em 1997, com fotões emitidos em direcções opostas e a 10 Km de distância. Quando interferiam com uma dessas emissões, a outra reagia de imediato da mesma forma.


Neste mundo da ciência o agricultor não pretendia evoluir ou fazer carreira, mas as suas experiências que captou por acaso poderiam muito bem ser a base de um estudo teórico, que pudesse depois vir a ser provado cientificamente. A nossa interacção com o mundo natural é sempre muito limitada e raras vezes temos disponibilidade para reparar nas coisas. E muitas vezes confiamos demais nas soluções que são vendidas como as melhores, desenvolvidas pelos génios da ciência, quando basta olhar com atenção para o mundo à nossa volta, e para as relações entre as coisas todas, vivas e não vivas, para descobrir as receitas para questões complexas.


Uma das suas cadelinhas era um exemplo de boa convivência com todos os cães. Raça pequena, sem ser de raça apurada, era antes uma misturada de genes. Fossem cães absurdamente enormes, ou ridiculamente pequenos, ela aproximava-se logo, para reconhecer e depois brincar ou afastar-se. Mas bastava ser um outro animal que viesse pela trela e fosse muito condicionado para ser um mundo distinto.  Fosse um daqueles medrosos que se colocam em postura de evitar as situações, ela aproximava-se como sempre, mas ao chegar muito próximo, atacava violentamente, de forma súbita e com um comportamento estranho e inédito.


Esta cadelinha foi parar a outros donos, que ao observar este comportamento decidiram que esta situação tinha que ser corrigida, pelo que pensaram logo em treino de cães. A cadela em questão teria que ser treinada e condicionada no seu instinto e sentimentos, para não atacar outros cães. E aqui é que o nosso agricultor usou o seu espírito revolucionário ao formular uma teoria. Seria bom usar esta pequena cadela para detectar cães que perderam a sua alegria, e que poderiam ser treinados para reagirem como cães normais. Esses animais é que precisavam de treino e de mais convívio com matilhas, voltarem a contactar com as suas raízes. Quem sabe o tempo excessivo de diferentes clausuras cause alguma mudança no mundo sub-atómico dos átomos que formam as células, que formam os diferentes tecidos celulares, que basicamente formam aquele ser vivo que é a companhia do ser humano. Quem sabe sobre esta energia?


Muitas vezes vê-se o mal nos outros, mas esquece-se de olhar para os defeitos ou analisar os problemas próprios. Bom mesmo era deixar de treinar os melhores amigos e começar uma escola de treino de donos. Afinal quem mudou radicalmente e em poucas gerações o modo de vida foram os humanos, que agora sujeitam os animais domésticos a situações pouco saudáveis. Os cães sempre foram um braço direito para diferentes actividades humanas até há bem pouco tempo. Agora neste nosso mundo industrializado e desenvolvido,o braço direito é o do humano, o braço que segura a trela, e o cão tem que ter conforto, alimentação e viver com venenos espalhados, por dentro e por fora, para todo o tipo de parasitas. É assim que o agricultor vê a realidade onde vive. Pouca agricultura e pouca revolução. Pouco tempo para olhar e menos ainda para reflectir.


sábado, março 23, 2024

FORMAÇÃO EM ESCRITA - CRÓNICA LITERÁRIA - COFFEEPASTE

Já há que tempos que ando a pensar que um dia destes me vou dedicar à escrita . Mas ao mesmo tempo sinto que me falta saber mais sobre o processo em si. Já temas para escrever não me faltam. Agrada-me a ideia de poder fazer um livro de ficção, um romance, mas onde consiga colar alguns episódios que merecem ser contados.

Como sou subscritor das notícias do Coffeepaste (coisas sobre a cultura, anúncios, entrevistas, crónicas - fica aqui o meu conselho para também subscreverem), vi que iam organizar um workshop sobre escrita de crónicas literárias e depois de pensar muito lá me inscrevi. A orientadora era a Inês Lampreia (link para o site dela), e o tema era "Entre realidade e ficção - A Crónica Literária".

Foi assim que ao longo dos dias construí uma crónica literária, que recebeu boas dicas da Inês, mas que recebeu também indicações das outras participantes no workshop. Conheci, ainda que à distância, um grupo interessante de pessoas, mais ou menos ligadas às artes e à cultura. Alarguei os meus horizontes. E descobri ou redescobri umas boas crónicas, algumas vou partilhá-las já por estes dias aqui. Mas a primeira vai ser a minha primeira crónica literária, já amanhã. Entre realidade e ficção.

quinta-feira, março 21, 2024

OS CUPÕES DE DESCONTO NO CONTINENTE - EXPLICAÇÃO AOS LEIGOS

 Qualquer pessoa poderia escrever esta crónica. Bastaria munir-se de informação, vendo como está explicado no site do Continente, e depois vir para a blogosfera debitar o conhecimento adquirido. Mas o Malfadado vai ser o suporte onde em poucas palavras se vai explicar como funciona, e muito bem, o cartão Continente. Sim, com base na experiência adquirida ao longo dos anos, com diferentes situações práticas.

Nestas coisas das promoções há dois tipos de pessoas. de uma forma simplista. O grupo maior é o das pessoas que não têm tempo para ir às compras, e que quando entram num supermercado vão comprar o que precisam, e carregam no carrinho ainda algumas coisas que acabam por levar para casa porque lhes chama a atenção uma ou outra promoção. O grupo menor é o das pessoas que são criteriosas na escolha do local onde vão fazer as suas compras, de modo a aproveitar os preços mais baixos. E que demoram a escolher os produtos que levam para casa.

Como se podem usar cupões, muitas vezes os preços mais baixos conseguem-se em supermercados cujos preços não são os mais baixos.

Quem vai usualmente às compras já percebeu que no Continente as filas para as caixas de pagamento são demoradas. Por um lado é a eterna falta de funcionários, que sejam suficientes para dar despacho aos clientes que querem pagar as suas compras. Mas, mais importante, deve ser o tempo que se perde por causa do cartão e dos cupões de desconto. A que se somavam os selinhos autocolantes das promoções periódicas, que se colavam em diminutas cadernetas, até se conseguirem objectos de consumo, normalmente utensílios para a cozinha. 

Estes selinhos já acabaram, e bem, na sua forma de autocolante. Mas continuam estas promoções, só que agora são automaticamente guardados informaticamente no cartão Continente. O que não dá jeito nenhum para quem juntava selos de outras pessoas.

Esta crónica nasceu num destes dias de 2024, num Continente perto de si, num fim de dia em que estava impacientemente aguardando numa das poucas e demoradas bichas que se formam nas caixas de pagamento, o nosso escritor de reflexões e protestos. Estava então uma cliente que tinha já disposto no tapete rolante um monte de produtos a ser atendida pela simpática funcionária da caixa. Apresenta um cartão Continente e os produtos vão sendo registados até que ultrapassam os 20 euros. Aí a cliente manda parar o registo das compras, um cupão de 5 euros que vão para esse cartão Continente, para compras de valor igual ou superior a 20 euros, e faz o pagamento desta compra. Volta o processo do registo das compras, e repete-se a situação, mais de 20 euros, outro cartão Continente e um novo cupão de 5 em 20, mais um pagamento. Ainda havia muitas coisas no tapete rolante, volta o processo de registo, a cliente deixa passar os 25 euros, interrompe e apresenta ainda um outro cartão Continente, um novo cupão, mas desta vez de acumulação de 5 euros em cartão para compras de valor igual ou superior a 25 euros. e mais um pagamento, com todo o processo que acarreta. 

Apenas uma cliente a ser atendida, já tinha demorado o tempo de três clientes. Será que ainda tinha outros cupões para o resto das coisas?

Os produtos lá foram sendo identificados pela máquina, um a um, e desta vez não houve mais interrupções. Mas a cliente entretanto já tinha tirado outro cartão Continente da sua carteira, novamente um outro cupão, mas desta vez era de 10% sobre o total da compra, digamos que os últimos produtos eram num total de 40 euros, acumulou 4 euros neste outro cartão.

Ali mesmo, diante dos olhos do nosso escritor, e da sua impaciência mal disfarçada, a cliente tinha poupado um total de 19 euros em compras que pouco ultrapassaram os 105 euros. Se por um lado o facto tinha perturbado o narrador de reflexões, pois pensava que iria ser rapidamente atendido e acabou por estar ali a assistir a tudo, foi ao mesmo tempo a confirmação do seu próprio método de caçar os melhores preços de bens alimentares, ou outros bens que normalmente se vendem nos supermercados.

Este voluntarioso cronista é, ele próprio, utilizador dos cartões dos supermercados. Para além de escolher a boa qualidade, ele defende que é possível poupar bastante dinheiro com os descontos em cartão. Pode parecer uma pequena poupança, e de facto é, são apenas 5 euros numa pequena compra, mas o impacto final pode ser bastante significativo.

O cartão Continente tem uma história curiosa, e era interessante alguém, um dia destes, fixá-la para a história. Os supermercados Continente e Modelo criaram este cartão de descontos e quem usava o cartão é que aproveitava os preços baixos, não havia descontos no preço base, o desconto era sempre em cupões. Nessa altura acumulava-se muito dinheiro em cartão, que ia aparecendo no talão da compra, no seu final, o valor acumulado na compra e acumulado no cartão. Mas também o total que já se tinha poupado com  o cartão. E a informação deste valor total, das poupanças com o cartão, ainda hoje aparece no final do papelinho vomitado pela caixa registadora. 

Desde sempre o valor acumulado em cartão não tinha data para ser gasto. Até que inventaram as semanas especiais, em que se pode comprar o que se quiser, na loja, e se tem um desconto especial de 15% sobre o total da compra. Valor poupado que vai para cartão, mas que tem que ser gasto na semana seguinte, caso contrário perde-se.

Como os outros supermercados não tinham cartões de fidelização, apresentavam preços com promoção e desconto directo. E o Continente e Modelo, que eram marcas diferentes da mesma empresa de vendas a retalho, começaram a fazer o mesmo, a aplicar descontos directos no preço. E os cupões foram perdendo importância. Mas mantiveram-se e chegaram até hoje. E foi assim, cupão a cupão, que o acima referido impaciente cliente totalizou uma poupança de 4700 euros no seu cartão. Mas o cartão já tem bem mais de 15 anos, foi logo dos pioneiros na adesão.

Os cupões não são iguais para todos os clientes. São enviados por correio, mas hoje em dia ficam também na aplicação para smartphone. Assim, um programa informático tem o poder de atribuir três tipos de cupões, que são emitidos consoante o perfil do utilizador. Há também a hipótese de não emitir cupões, mas isso acontece muito raramente, pois entre não dar nada e ficar com má imagem, ou dar 10%, obviamente que é preferível dar esses 10%. E esse é o cupão atribuído a quem mais gasta no Continente, o de 10% sobre o total da compra efectuada. Quem gasta menos, mas é cliente assíduo, leva com os cupões de 5 euros em 25 ou mais de compras. Quem vai lá poucas vezes tem o melhor cupão, que equivale a 25% de desconto, no máximo. São 5 por cada 20 ou mais euros gastos em compras. A emissão de cupões é bimestral, aproximadamente, e os cupões podem ser semanais ou bi-semanais. Nas semanas de 15% de desconto numa compra, não se emitem outros cupões.

Já poderemos voltar à situação inicial, na caixa registadora. Atrás da cliente que apresentou 4 cupões, poupando 19 euros, ou seja quase 20% de desconto, foi a vez do escritor. No seu cesto vermelho de plástico, com rodas demasiadamente bem rodadas, tinha colocado bens alimentares cujo valor ia somando na sua calculadora de smartphone. Para saber exactamente o que comprar sem gastar mais do que o mínimo necessário, forma de maximizar a percentagem de desconto. Como tinha para usar, nessa semana, também um cupão de 5 em 20, levava produtos no valor de 20 euros e uma escassa dezena de cêntimos. Passados todos os produtos no infalível leitor de códigos de barras, o valor não chegava aos 20 euros. Faltavam 50 e tal cêntimos. Já era costume. Algum preço mal marcado normalmente elevava a quantia total para mais de 21 euros, mas se era abaixo dos 20 normalmente era uma promoção que não estava visível no preço final apresentado. Nesta situação de fazer falta um produto, a situação resolveu-se como ele gostava de a resolver, sem perder mais tempo. Pediu para passar novamente um produto já registado, e no final da compra, enquanto outro cliente era atendido, voltou a entrar para ir buscar um produto igual ao registado, voltando depois a sair e mostrando o produto à simpática funcionária.

Na hora de pagar, o normal. Descontar o valor acumulado anteriormente - 5 euros. Depois pagar o que faltava, 15 euros e um par de dezenas de cêntimos. Terminar confirmando o valor acumulado em cartão. Neste caso somou 5 euros às centenas já ganhas com este cartão, que também não era seu, mas sim emprestado. Afinal a mal disfarçada impaciência para estar na fila à espera que a tal cliente passasse diferentes cupões, era propriedade de alguém que também usava o mesmo método para poupar nas suas compras. Com a diferença de neste caso ter usado apenas um dos cupões que levava na sua carteira.

Este escritor de crónicas mundanas, pouco dado a políticas ou morais religiosas, para além dos milhares acumulados no seu cartão pessoal, acumulava centenas num outro cartão, mais outras tantas centenas noutro, e mais centenas ainda num quarto cartão.

quarta-feira, março 20, 2024

LARANJAS DA EREIRA - M.-O-VELHO


Este tabuleiro tem só laranjas colhidas na Ereira. As de trás até parecem tangerinas, mas são laranjas de tamanho corrente. As que estão em primeiro plano é que são enormes. Uma das laranjeiras da Ereira este ano deu menos laranjas, mas cada uma maior que a outra. Mesmo assim produziu muitas, e incrivelmente, apesar do peso, aguentaram várias intempéries. Está na altura de apanhar as últimas, por estes dias.

Reparem então neste exemplar:

uma colher de chá e uma tangerina, para fazerem de escala.
mais de 800 grama, cortada e espremida eis o resultado:

Um copo cheio de sumo fresco, ainda por cima delicioso


Impressionante não é? Então aqui fica o registo fotográfico da maior:




sábado, março 16, 2024

RESIDENTE VOLTA A TER CASA NO MALFADADO

Aqui fica este registo extraordinário de um videoclip, deste artista de Porto Rico, mas que agora é residente no mundo inteiro. Eu sabia pouco sobre ele, mas um amigo esclareceu-me.

sexta-feira, março 15, 2024

ERRATA NO MALFADADO - AFINAL O ORÇAMENTO DO ESTADO TAMBÉM VAI FINANCIAR A ADN

 No dia 11 escrevi aqui que apenas os partidos que elegem deputados recebem financiamento do estado, um valor fixo por cada voto recebido. Ficam assim com um orçamento anual folgado, ou muito folgado, ou escandalosamente folgado, consoante o resultado eleitoral. Mas depois apanhei uma reportagem na televisão que já tinha feito as contas, antes mesmo de sabermos quem votou em que partidos nos círculos dos que estão recenseados noutros países. E foi assim que fiquei a saber que afinal a ADN, mesmo sem ter elegido nenhum deputado, vai receber um pequeno balúrdio para gerir durante os anos em que durar esta legislatura, que se prevê curta. Fica aqui o link (clicar aqui) para o site da SIC notícias, com as contas que eles fizeram.

E fica aqui esta errata, pois que fica bem dar o braço a torcer quando se erra. A minha confusão derivou do facto de se considerar que quando um partido atinge 100 mil votos, a nível nacional, é muito provável que eleja um deputado. O que não aconteceu, porque a ADN não teve mais votos nas zonas urbanas do que no interior, que é o que normalmente acontece com os pequenos partidos que surgem e conseguem maior influência nos meios urbanos.

quarta-feira, março 13, 2024

SAÚDE EM BAIXO - MAS SEM DRAMAS

 De Outubro para cá não me tenho sentido bem. Nada de especial, mas um cansaço inusitado e fora do comum. E muitas maleitas consecutivas, desde uma grande sinusite, abcesso, gripe. Os braços cansados, especialmente ao fim de cada dia. Mesmo em dias sem grande actividade física. Fui sempre sendo acompanhado e no início de Dezembro a indicação clara que tinha que desacelerar e descansar. Tinha o coração cansado. Magro e cansado, muitos amigos me diziam para fazer análises ao sangue ou outras, prescritas pelo médico de família. E assim fiz, já este ano marquei consulta para pedir as análises, mas marquei também consulta na minha iridóloga. Foi assim que no final de Fevereiro ficou registado que de facto não tenho nenhum problema aparente, tudo dentro dos limites e dentro do que se pode esperar. Na iridóloga, quando comentei que o meu médico-terapeuta tinha dito que o meu cansaço era do coração, ela mostrou-me que há 4 anos atrás já tinha registado uma mancha na minha íris, indicando isso mesmo, um ponto fraco no coração, mas nada de grave. Da médica de família não trouxe nenhuma indicação, mas o ponto da situação actual é o seguinte:

- da iridóloga trouxe a prescrição de suplementos alimentares, para ajudar na ideia do

- médico-terapeuta, de dieta sem açúcar e de uma vida adaptada à idade e suas mudanças hormonais, que se juntam à ideia do

- meu melhor médico, de tentar procurar na psicologia uma resposta e apoio para estas mudanças que implicam mudanças grandes no ritmo de vida.

A verdade é que por estes dias me tenho sentido melhor, já deu para fazer várias podas, não todas as que queria, mas também o clima se adiantou no calendário e encurtou o período favorável das podas. Ficam as restantes podas para o final da Primavera, ou para a época que vem.

A verdade é que um dia destes, numa conversa caseira, me lembrei que uma das coisas importantes que devemos fazer, para defesa da nossa saúde, é um registo das nossas maleitas, para que um bom médico, no futuro, possa ter a noção da evolução da nossa saúde. Quantas vezes nós acabamos por fazer mal o nosso quadro clínico, baralhando datas e omitindo factos que podem ser determinantes no estabelecimento de um diagnóstico e de uma possível terapêutica. Por isso mesmo, uma das minhas tarefas para os próximos dias de chuva é criar um documento onde vá registando as minhas maleitas. Há muitos anos atrás, ao fazer alguma autoformação em medicina funcional, apanhei um ficheiro que se ia preenchendo, se calhar tenho isso por aqui nalguma memória de computador.

segunda-feira, março 11, 2024

QUEM GANHOU AS ELEIÇÕES LEGISLATIVAS 2024?

 Em cima do acontecimento, e ainda sem ter os resultados finais porque falta a contabilização dos votos e dos deputados eleitos pelos emigrantes, aqui vai a crónica política no Malfadado. Vou divulgar aqui quem é que ganhou nestas eleições.

Muitos dizem que foi o Chega a ganhar as eleições. Mas é um engano, o Chega vai ter uma grande representação parlamentar, vai ganhar direitos na Assembleia da República, mas com a quantidade de dinheiro que vai entrar nos cofres da instituição, é certo que aquilo vai ser um viveiro de guerras internas. E não ganha as eleições porque fica num honroso 3º lugar, com deputados suficientes para andar metido em todas as Comissões Parlamentares, mas serão na sua maioria pessoas sem preparação para exercer cargos públicos de defesa dos eleitores que os elegeram. Não ganha as eleições porque o Chega tem muitos deputados, mas serão deputados que não contam para ajudar a mudar a vida dos portugueses para melhor, uma vez que a sua intenção é apenas tentar destruir ainda mais o PSD, uma vez que já conseguiram destruir os bastiões do PCP e pensam que podem ir mais longe. O Chega não ganhou as eleições porque os eleitores nem imaginam quais são as qualidades dos deputados que meteram no Parlamento, quem é verdadeiramente premiado é o André Ventura, o seu discurso e a sua presença conseguem de facto mobilizar o voto dos portugueses. O crescimento do número de votantes no Chega é impressionante, triplica em relação há apenas 2 anos atrás. E essa triplicação resulta numa quadruplicação do número de deputados, o que poderia ser notável, caso esses deputados fossem importantes para a implantação de políticas efectivas de intervenção na sociedade.

Há quem defenda que foi a AD a ganhar as eleições. E de facto, foi quem conseguiu posicionar-se melhor, mas só se somarmos à verdadeira AD os votos e os 3 deputados da coligação PSD+CDS (para os mais desatentos, na região da Madeira o PPM ficou de fora e como tal não houve AD a concurso).

Como se vê na imagem seguinte, ao abrir a página oficial dos resultados, o PS tem mesmo mais deputados e mais votos que a AD:



 Mesmo que a AD consiga eleger 2 deputados pelos círculos do estrangeiro, roubando um aos 3 actuais do PS, e mesmo que o Chega roube outro deputado ao PS, a AD enquanto tal não conseguirá ter mais deputados eleitos do que o PS, na melhor das hipóteses terá o mesmo número. O número de votantes também é importante, pois a AD enquanto tal está neste momento com uma desvantagem de cerca de 2 mil votos, e há 2 anos atrás ficou com 15 mil votos menos no voto emigrante. Ou seja, muito dificilmente a AD terá mais votos que o PS nas contas finais. Para os partidos da AD conseguirem ter no seu conjunto mais deputados que o PS, é então preciso somar os 3 deputados do PSD eleitos na Madeira, e mesmo assim é uma vantagem mínima. Se retirarmos os dois deputados do CDS, o PSD vai ficar empatado, ou com apenas mais um deputado que o PS. Não se pode é fazer a contabilidade dos votos, pois não se consegue determinar a diferença de votos entre PSD e CDS (e PPM). Mas sim, poderemos admitir que o PSD teria mais votos que o PS na contagem final, mas uma pequena diferença.

Podemos então defender que, com mais votos dos portugueses, o PS é o vencedor destas eleições? Que é coisa que nenhum analista político ou comentadeiro irá dizer, e muito menos algum socialista poderá gabar-se? Também não me parece boa leitura das circunstâncias, mesmo que ficasse à frente da AD de forma mais visível, nunca teria mais do que um ou dois deputados, pois a descida em apenas 2 anos do número de votantes no PS (que teve nas mãos uma estabilidade parlamentar que não soube aproveitar, sendo vítima da falta de competência política de inúmeros ministros e secretários de estado) é realmente determinante. Perde 500 mil votos numas eleições em que votaram mais 800 mil pessoas, em números aproximados. Ainda assim, consegue um bom grupo parlamentar, encaixando todos os seus boys e girls mais mediáticos, e garante um bom financiamento anual do erário público para a sua estrutura de sedes e funcionários. Mas temos mesmo que admitir ter sido derrotado nestas eleições, como aliás era de se esperar depois de um governo que não conseguiu resolver a maior parte dos problemas dos serviços públicos, e viu a maior parte dos residentes em Portugal que não têm casa própria sofrerem com a absurda subida do preço da habitação.

Depois temos todos os outros partidos, divididos em dois grupos: os que elegeram deputados, e que vão receber um financiamento anual dos dinheiros dos contribuintes, e os que tiveram tão poucos votos que não chegaram para ter representantes seus no Parlamento, e por isso vão continuar na sombra. Até na sombra mediática, uma vez que a nossa imprensa apenas ajuda a divulgar os partidos com assento parlamentar.

E será que foi algum dos partidos que elegeu deputados a ganhar estas eleições, mesmo que nenhum deles seja referido como tal?

Iniciativa Liberal, fica em quarto lugar outra vez, podemos dizer que fica na mesma. Um pequeno grupo parlamentar que por si só não ajuda a fazer a diferença, pois também não quer nada com a falta de qualidade dos deputados do Chega, são outra vez apenas 8 deputados, que terão que se desdobrar para trabalhar nas diferentes Comissões. Numas eleições com tantos eleitores, o seu crescimento eleitoral ajuda também no financiamento da sua estrutura partidária, mas a IL acaba por ser vítima de não conseguir mostrar um bom funcionamento interno, com gente a afastar-se publicamente, com críticas ao centralismo de quem ganhou nas eleições internas.

O meu Bloco de Esquerda é que também não ganhou nesta eleições, e tal como a IL fica na mesma, não fazendo a diferença no hemiciclo. São outra vez 5 deputados, eleitos nos mesmos círculos distritais, aumenta o número de votos mas nada de especial, aliás neste momento tem exactamente a mesma percentagem de há 2 anos, 4,46%. Sendo um partido pequeno, que perdeu a capacidade de chamar a si os votos de protesto e ao institucionalizar-se e fechar-se no trabalho parlamentar (no muito bom trabalho parlamentar, há que dizer), o BE sofre do efeito do voto útil a favor dos grandes partidos nos círculos onde se sabe que não vai eleger deputados, mesmo que tenha candidatos com excelentes qualidades. Nestas eleições não soube tirar melhor partido do descontentamento das pessoas que acreditam numa sociedade que tem nos serviços públicos a base do seu desenvolvimento, as suas boas prestações e apelos serviram, pelo menos, para não cair nas votações e manter um grupo parlamentar de serviços mínimos nas Comissões Parlamentares, e de serviços máximos na apresentação de propostas de lei. E serviram para garantir o bom funcionamento da sua estrutura partidária.

O sexto lugar vai para a Coligação Democrática (e) Unitária, juntando o veteraníssimo PCP e o seu satélite PEV. Claramente perderam nestas eleições. O seu grupo parlamentar, que eram só deputados do PCP, perde dois deputados, um deles era representante de Beja, os seus 4 deputados são eleitos, tal como os do BE, apenas por Setúbal, Lisboa e Porto. Em Beja, a esquerda fica envergonhada e humilhada, pois abre a porta a mais uma deputada do Chega, uma ilustre desconhecida que também deixou o PSD, com muita inexperiência em cargos públicos. O PCP perde deputados e perde votos aos milhares, pois havendo mais votantes num universo de menos eleitores recenseados (menos 20 mil recenseados, certamente muitos dos velhos que morrem eram votos certos no PCP em cada eleição), descer 30 mil votos em 2 anos vai dar muito que pensar às cúpulas. Porque se calhar as bases já perceberam o que está mal neste partido. Não se imagina como dividirão os valores da subvenção anual com o PEV, mas com esta votação terão ainda o suficiente para financiar a sua grande estrutura partidária. Isso sim, terão que apertar um pouco o cinto.

Um dos poucos que poderiam ter dito que ganharam as eleições seria o Rui Tavares. Partindo de um modesto 9º lugar em 2022, e com o próprio dirigente do Livre a ser deputado único na Assembleia da República, sobe dois lugares e multiplica a sua votação por três. E quadruplica o número de deputados, passando a cumprir largamente o objectivo de constituir um grupo parlamentar. E garante um financiamento público anual que lhe vai permitir alargar a estrutura partidária. O partido que ganhou notoriedade com os episódios protagonizados pela simpática gaguinha Joacine Moreira cresceu à custa do protagonismo do seu líder e beneficiou da transferência de votos dos votantes esquerdistas do PS, mas também do crescimento do número de votantes. O Livre não ganhou estas eleições mas ficou perto de poder ser considerado o que mais ganhou. Pelo menos ganhou para as despesas, e abriu uma porta para se posicionar com mais peso numas futuras eleições e possíveis alianças pré-eleitorais. Elege deputados apenas nos mesmos distritos que o BE e o PCP. Que mesmo todos juntos, serão deputados que também não contam para uma solução governativa ou de defesa de políticas determinadas.

Em 8º e último vem o Pessoas, Animais e Natureza, que nasceu dos movimentos da sociedade civil de defesa dos direitos dos animais como Partido dos Animais e Natureza, e depois se alterou para o actual PAN. Este partido ficou na mesma, subiu um pouco a votação, mas não foi suficiente para eleger um segundo deputado, apenas a sua líder manteve o lugar que já ocupava na Assembleia da República. Nestas eleições dei o meu voto a este Partido, de forma a ajudar a financiá-lo por mais algum tempo. E com os votos angariados, se conseguirem fazer uma boa gestão financeira, poderão procurar estar mais perto dos eleitores que lhes confiaram o voto, e principalmente junto dos eleitores que não vêem no PAN uma boa escolha, mas que o façam de maneira menos convencional e mais ecológica, uma vez que de facto, continuamos sem ter no Parlamento uma formação política que defenda a causa ambientalista, e o PAN poderia vir a ser essa força. Ou a Inês arrisca-se a apanhar também com um real banho de tinta. Pois, também não foi o PAN a ganhar nestas eleições.

Restam os pequenos partidos, aqueles que ficam de fora, os muito pouco, ou mesmo mal amados pelos eleitores. Será entre os pequenos que vamos ver quem ganhou as eleições. Na generalidade podemos dizer que os pequenos partidos viram crescer as suas votações, isto em número de votos, porque em termos de percentagem a variação ficou-se na manutenção dos valores. A grande excepção à subida foi o MPT e o Aliança, que decidiram concorrer em coligação, e mesmo assim, juntos, tiveram piores resultados que a soma dos seus resultados em separado, mais do que o Aliança, mas muito menos que o MPT há 2 anos atrás. Será de pensar desistirem, fecharem as portas, quem sabe sejam futuros activistas do Chega.

Mas não estou aqui para dar propostas para o futuro, falta divulgar quem ganhou estas eleições.

O partido que conseguiu ganhar estas eleições, não elegeu deputados, não vai receber subvenção para se financiar anualmente. E é realmente um dos pequenos partidos. Foi a Alternativa Democrática Nacional. Este partido, a ADN, multiplicou por 10 a sua base eleitoral. Passou de 5º lugar dos pequenos, para o topo da lista. É o primeiro, e por pouco não elegia um deputado em Lisboa ou no Porto. Ganhou não por ter um programa eleitoral melhor, muito menos pelas prestações do seu líder, e ainda menos pelas prestações dos seus candidatos ao nível dos distritos. O ADN ganhou estas eleições porque consegue crescer muito mais que todos os outros, sem ter capacidade para isso. O ADN cresce e mostra bem a qualidade dos eleitores, principalmente os da AD, que se enganaram a meter a cruz. Alguns terão desculpa, sim, pois cuidar da visão não é para todos, mas outros, muitos, é mesmo por falta de competências.

Parabéns ao ADN, por mim leva a taça!!!!